histórias de garra #1

09:40

Quero dar oportunidade de quem me lê, também ser lido. Talvez as palavras que nunca foram escritas, ou ditas são agora um alivio para o coração.

Aqui fica o primeiro relato da minha querida M.

"Quando fui proposta pela minha querida amiga a escrever sobre este tema, nem pensei duas vezes e decidi fazê-lo imediatamente. Parecia que eu própria tinha necessidade de escrever sobre isto. Há precisamente um ano atrás, eu estava a viver uma das fases mais maravilhosas da minha vida e nunca pensei ser testemunha de algo tão avassalador e perturbador. 
Foi com uma felicidade imensa que recebia a notícia de que iria ser mãe, que dentro de mim existia um pequeno ser a crescer, e que iria ser a minha vida a partir daquele dia. 
Desde muito nova que sinto uma necessidade imensa de ser mãe, e tenho a certeza de que nasci para o ser!
Portanto eu estava a viver um sonho! Fizemos tudo certinho, consultas, alimentação, suplementos, todos os cuidados foram tomados. Tudo correu bem até às 8 semanas. No dia que completei as 8 semanas fui fazer uma ecografia, e nesse dia eu senti que havia qualquer coisa que não estava bem, e cresceu em mim uma tristeza que me apertava o coração e eu não sabia explicar a razão. Quando a médica iniciou a eco, ficámos maravilhados a ver o nosso bebé, ali lindo e perfeitinho, mas havia algo que não estava bem e era o coraçãozinho que não estava a bater. O meu bebé tinha perdido a vida! Esta é a frase que eu nunca tinha imaginado na minha cabeça! “Mas o quê?! Como?? Porquê??! Não pode ser verdade!” 
Sim era verdade! E estava a acontecer comigo! Eu não ia conhecer o meu bebé, aquele que eu já amava incondicionalmente. Nesse dia o meu mundo caiu e eu cai com ele! 
Tive de passar por um processo de internamento para me provocarem a expulsão do feto, e foi muito doloroso. Eu estava a deixar uma parte de mim ali, eu só queria o meu filho! Nesse dia voltámos sozinhos para casa. 
Decidimos esperar algum tempo até voltar a tentar engravidar novamente porque eu não estava preparada se tivesse de passar por tudo outra vez. Nos dias que se seguiram eu não consegui sair de casa, enfrentar as pessoas de fora e ter de dizer-lhes que já não estava grávida, não queria vestir-me, não queria comer, não estava a ser fácil mentalizar-me do que me tinha acontecido, todas aquelas perguntas assombravam a minha cabeça e eu estava muito revoltada. No meio do meu estado depressivo, um dia acordei e vi que havia mais gente à minha volta, que a minha vida tinha de continuar e seguir em frente! O meu marido foi o meu maior porto de abrigo e devo-lhe a ele toda a força que tive nessa altura para me levantar quando ele me puxou pela mão. Decidimos casar e tivemos um casamento maravilhoso! Embarquei num projecto profissional que me mantém ocupada e determinada em seguir em frente! 
Há pouco tempo fui novamente inundada por uma dupla felicidade, pois estava novamente grávida e desta vez eram dois! Era uma gravidez gemelar (gravidez de gémeos)! Pensámos: “Deus tirou-nos um, mas agora deu-nos dois para compensar!” Fomos novamente fazer a eco e voltei a passar por tudo outra vez! Os corações não batiam e deixaram de se desenvolver! A médica mais uma vez não teve explicação para mim, e disse-me que tínhamos de tentar uma terceira gravidez para ver se existia algum problema e só aí é que poderia ter a certeza de que algo não estava bem connosco. Acreditem que sofri tanto na primeira perda, que desta vez já estava algo que mentalizada e à espera de que alguma coisa não corresse bem.  Lá estava mais uma vez o meu instinto a dar sinal! Instinto de mãe nunca se engana. Passei pelo mesmo processo de expulsão. Mas desta vez, eu já só queria que passasse depressa para tentar novamente! 
Hoje sinto-me forte! E não vou deixar que o meu sonho morra nunca! Porque a força de querer ser mãe fala mais alto e eu sei que vou conseguir! Hoje eu sei que tudo acontece por
uma razão e que tudo na vida tem um tempo certo para acontecer! Por mais difícil que seja o sentimento de perda, temos de lutar para seguir com a nossa vida para a frente, porque afinal de contas, o nosso objectivo é sermos mães, e não vai ser a desistir e a baixarmos os braços que vamos conseguir!
Agora desfruto da minha vida novamente e tento ter uma vida estável a saudável e quando a cegonha decidir bater à nossa porta, nós vamos abri-lhe a porta e recebê-la com todo o carinho e felicidade! 
Obrigada querida por esta oportunidade, de poder contar a minha história e mostrar que há sempre forma de dar a volta, basta querer!"

Podem participar enviando os vossos textos para catarina.mesquita.alves@gmail.com :)

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