"O médico disse que a minha gravidez não evoluiu por ser uma gravidez anembrionária"

21:00

O blog não é só meu. Nunca foi e não tenciono que seja. Por isso mesmo, depois de muita pesquisa, de falar com muita gente, de entrar em muitas casas, corações e histórias, partilho convosco uma série de entrevistas feitas a outras mulheres. Com diversas temáticas, tentei ir de encontro às menos faladas. Como é ser mãe e pai? Como se lida com um aborto? Como se vive a infertilidade? O espaço é nosso... e é no nosso espaço que estas emoções virão à flor da pele.

Sempre foi muito sonhadora.
Hoje tem 29 anos, ainda não deixou de sonhar, mas afirma que já não sonha da mesma
maneira. A vida nem sempre correu como esperava.
Afirma que um dos sonhos que lhe acompanha ao longo da vida é ser mãe.
Em 2010 ainda não era casada, mas achava que já era o momento certo para os dois
serem papás. O sonho passou a ser partilhado pelos dois. Inicialmente não recorreram a
nenhum médico e sem grandes planos e stresse acabaram por deixar de tomar todo o tipo de
método contracetivo e deixar nas mãos do destino.
E assim passaram 4 anos… “Parece impossível mas quem mais deseja normalmente é
sempre quem demora mais a concretizar o sonho”.
A 20 de Janeiro de 2014 parece que o destino resolve sorrir para os dois. Ela estava
com 5 dias de atraso e sem querer fazer o teste porque achava que mais uma vez não ia estar
o marido recebe-lhe em casa com um teste de gravidez. “O meu marido, dizia me que no teste
aparecia uma risca e eu dizia que não estava só, podia ser reflexo da luz”. Mas assim se
confirmou, estava mesmo grávida e a risca não era do reflexo.
“Foi o momento mais feliz das nossas vidas, corremos, pulamos, gritamos e contamos a
toda a gente que nesse momento o nosso maior desejo era real.”
Mas nunca pensaram que o momento mais feliz da vida deles estava prestes a
desabar. Ela estava com 4 semanas quando foi fazer a primeira ecografia e o médico
comunicou que ainda só havia saco gestacional, mas embrião não.
Ainda assim, o positivismo continuou a prevalecer da parte dele. Enquanto ela não
estava a aguentar o medo que passou a carregar nas costas a partir daquele dia e achou por
bem recorrer a um hospital dias depois para perceber o que realmente se passava. “No
hospital disseram que era normal ainda não existir embrião porque a minha gravidez era
gemelar e ainda estava em desenvolvimento.”
A alegria e esperança rapidamente habitou nos corações e casa do casal. “Voltamos a
viver o sonho, os nossos amigos e família não tardaram para comprar coisinhas para o/a nosso
futuro bebé”
Uma semana depois teve outra ecografia e o pior veio-se a confirmar. “O médico disse
que a minha gravidez não evoluiu por ser uma gravidez anembrionária, ou seja, não tinha
embrião e tinha de esperar duas semanas a ver se o corpo expulsava”

“A gravidez anembrionária acontece quando um óvulo fertilizado implantasse no
útero, mas o bebê não se desenvolve. Ao fazer uma ultrassonografia, no primeiro
trimestre da gestação, o saco gestacional aparece vazio, sem embrião dentro. É
chamado "ovo cego", que resulta num aborto espontâneo.” Chrissie
Hammonds - Ultrassonografista obstétrica

Afirma que foram momentos horríveis e muito doloros “senti-me pior que uma criança
quando lhe dão um chupa e depois lhe tiram após dar a primeira trinca”.
O aborto teve de ser provocado após duas semanas porque o corpo não conseguiu
expulsar sozinho “o corpo nunca expulsou nada porque a minha cabeça e o meu coração
amavam os meus gémeos como se não houvesse amanhã e queria muito que a gravidez fosse
real”.
O casal já estava com o casamento marcado quando tudo aconteceu e duas semanas
após esta perda chegou “supostamente” um dos dias mais felizes, dia 28 de março de 2014. “O
meu vestido ainda estava por fechar à espera de se saber o tamanho da barriga… Quando fui
fechar cada ponto foi uma lágrima cada ponto foi uma ferida do meu coração. Doeu muito.
Há coisas que não se esquecem, e a volta do hospital é uma delas. Quando voltaram
para além de terem de arrumar as ditas gavetas no coração e na mente tiveram, também, de
arrumar tudo que lhes tinham dado em relação aos gémeos. Relembram que foi muito
complicado gerir todas as emoções para mais no dia do casamento que o passaram a chorar
por ser tudo muito recente.
Passaram quatro anos e este casal ainda não realizou o sonho. Juntos recordam que
foram dos momentos mais difíceis que já passaram, mas o que lhes mantém fortes é o apoio
da família e amigos. Mesmo assim há pessoas que não compreendem a sua dor pois
desvalorizam a sua perda.
“Agora fomos enviados para Coimbra penso que iremos fazer fiv só não sei quando.”
O casal diz ainda sofrer de infertilidade inexplicável, os médicos não conseguem
explicar a causa de ainda não terem conseguido.
“Como eu costumo dizer a minha cegonha não tem gps, tenho de aguardar que ela
encontre o caminho de regresso de tiver de encontrar.”



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