histórias de garra #3

15:05


A minha história, a minha história dava um livro.

Sempre fui aquela pessoa ansiosa que achou sempre que no dia em que quisesse engravidar, não iria ser fácil. Era uma espécie de ‘Feeling’.

Depois de 8 meses sem contraceptivo, engravidei em Abril de 2013. Ia casar dali a 4 meses mas eu queria lá saber do vestido, do casamento, eu estava grávida e não havia alegria maior. Estávamos todos doidos de felicidade, o meu marido radiante, mesmo feliz como poucas vezes o vi.

Mas tudo o que é bom acaba depressa. Quarto dias depois fui à minha obstetra e ela disse-me que eu não tinha nada no útero. O chão fugiu-me dos pés. Ela alertou-me logo para o facto de poder ser uma gravidez ectópica. Lembro-me que paguei a consulta a chorar, entrei no carro e fui até casa a chorar. Cheguei deitei-me na cama e chorei novamente.

No dia seguinte, comecei a ter muitas dores, liguei-lhe e fui ter com ela à maternidade. A situação não era clara, fiz um Beta e confirma-se a gravidez mas com valores baixos. Mandou-me ir ter com ela dali a 4 dias para um colega especialista me fazer nova eco e repetir o Beta.

No dia antes da data marcada, tinha acabado de almoçar e comecei a perder sangue. Fui imediatamente para a maternidade. As dores começaram a tomar proporções assustadoras, eu não conseguia para de vomitar. Implorei ao meu marido que me levasse para casa porque não aguentava mais estar naquela sala de espera.

Voltei para casa, cada vez pior, pouco tempo depois de estar em casa pedi ao meu marido que chamasse os bombeiros porque as dores eram tantas que eu pensava que ia morrer.

Saí do hospital com uma pulseira verde e voltei a entrar com uma pulseira laranja. Alguma coisa falhou. Estava tudo a falhar.

Fiquei internada e foi-me dito que à partida seria uma gravidez ectópica mas que ficaria para observação. Morria de dores, desesperada. Na manhã seguinte entrou uma nova equipa, o meu embrião continuava vivo mas dentro da trompa. Fui operada por uma equipa maravilhosa e quando acordei, já não tinha dores, já não estava grávida e o meu filho estava num caixote de lixo qualquer.

Nessa altura fui forte, não chorei, não tive a consciência do que me estava a acontecer. Os médicos só me diziam que me tinham salvaguardado a trompa e que ia poder engravidar rapidamente. Foquei-me apenas nisso.

Com a alta do hospital fui automaticamente encaminhada para a consulta de Apoio à Fertilidade para fazer uma histerossalpingografia antes de voltar as treinos. Nessa altura já estava mal, já adormecia e acordada a pensar todos os dias naquele bebé que era meu e que me tiraram.

No dia em que fui fazer o exame estava calma, fui com uma amiga. Mas correu tão mal, a experiência das médicas era pouca ou nenhuma ao ponto de eu ter uma convulsão durante o exame. Quando acordei a médica apenas me disse o que se tinha passado e foi-se imediatamente embora. Resultado do exame: trompas completamente desobstruídas. Indicação de iniciar os treinos e que a probabilidade de engravidar logo depois do exame é enorme.

Estava radiante, era agora. Mas não foi e nesse ciclo começou o meu calvário.

Foram 13 meses de treinos, de fazer amor a dias certos, a horas certas, de testes de ovulação, testes de gravidez, sintomas que pareciam mas não eram, tomava tudo o que me diziam que me ia fazer engravidar e nada.

Com isto tudo o meu casamento estava por um fio e eu completamente deprimida. Fiquei obcecada. Não queria ver grávidas, nem bebés. Irritava-me as pessoas a dizerem que quando parasse de pensar nisso engravidava, que podia ser adoptar.

Chorava todos os dias, sofria pelo bebé que perdi, pelo bebé que nunca mais vinha. Cheguei ao fundo do buraco.

Entretanto já estávamos a ser seguidos na consulta de infertilidade da MAC e no dia 5 de Maio de 2015, tínhamos consulta para saber o diagnóstico, depois de fazermos vários exames os dois. Eu confesso que ia cheia de esperança, achei que o famoso Dr. Gervásio nos ia dizer que estava tudo bem e que se tratava de uma infertilidade inexplicada.

Mas não.. ele disse-nos que o meu marido tinha 0% de espermatozóides com formas normais, que seria impossível engravidarmos até mesmo com tratamento. Foi tão difícil ouvir aquilo. Mandou-nos repetir o espermograma e voltar lá para eventualmente reencaminhar o meu marido para uma biópsia testicular. A minha cabeça só estava a pensar nos meses e anos de espera que tinha pela frente que se iriam resumir em nada. Mantive-me firme ao pé do meu marido, ele estava de rastos, mas quando me apanhei sozinha com a enfermeira o meu mundo caiu todo ali, chorei tanto de mão dada com ela. Ela chamou o meu marido e eu acalmei-me, respirei fundo e fomos marcar o espermograma. Só dali a 2 meses tínhamos uma vaga, e nessa altura um dia para mim era uma eternidade, quando a senhora do balcão me disse a data eu saí a correr pelo corredor, encostei-me num cantinho, mandei-me para o chão e fiquei ali a chorar até o meu marido aparecer. Eu não ia ser mãe, o meu marido não podia ter filhos e o que ia ser do nosso casamento. Foi um dos piores dias da minha vida.

Nesse dia desisti efectivamente de ser mãe. Para o meu marido a adopção estava fora de questão. No fim de semana seguinte fomos sair, divertimo-nos bué e fizemos amor, sem pernas para o ar, sem datas, sem horas só amor, entre duas pessoas que se amam.

Na semana seguinte achei que se comprasse um cão iria aliviar o meu sofrimento e eu iria focar-me no cachorro e não ia pensar tanto no nosso problema. Então compramos um Yourkshire e andávamos felizes da vida.

O meu marido começou também a fazer acupunctura e mudou radicalmente a alimentação.

No dia 26 de Maio eu comecei a ficar cheia de dores de dentes, tomei imensos Clonix’s para aliar a dor. No dia seguinte era dia de me aparecer o período pela primeira vez desde que tinha parado com os treinos e por momentos veio-o me à cabeça ‘acho que estou grávida’ mas nem quis dizer isso em voz alta nem comentar com o meu marido. Continuava cheia de dores À depois do jantar fomos ter com uma grande amiga minha que é dentista e que me receitou um antibiótico. Entretanto já eram 22h da noite e o meu período que era tão regular ainda não tinha vindo mas eu não comentei nada nem comigo mesma. Fui à farmácia comprar o antibiótico e comprei um teste na mesma, quem já passou por isto sabe que são impulsos incontroláveis, a senhora da farmácia disse-me que só fizesse o teste de amanhã porque era o primeiro dia de falta e já era final do dia. Como é óbvio a primeira coisa que fiz quando cheguei a casa foi o teste e não é que deu POSITIVO.

Meus Deus, eu não queria acreditar. Não me controlei, liguei para a minha amiga, a minha mãe, a minha sogra, não me consegui controlar.

A minha gravidez correu super bem, foram 9 meses com muita azia mas fantásticos e o meu BabyT já tem quase 10 meses e é lindo.

O meu casamento acabou recentemente mas ficou o melhor de nós, o nosso tão desejado filho.

A ti Catarina, que me acompanhaste todos os dias, todas as horas neste minha viagem turbulenta, quero dizer-te que te adoro, que foste és um pilar. Quero dizer-te que tenho muito orgulho na mãe em que também te tornaste. Sempre juntas amiga, para o que der e vier. Gosto de ti de Lisboa ao Porto :)






Podem participar enviando os vossos textos para catarina.mesquita.alves@gmail.com :)

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