“Eu tenho 26 anos e o meu marido 27.

Somos jovens sim, mas desde o secundário que namoramos e desde cedo soubemos
que ficaríamos juntos. Depois de alguns problemas de saúde ele acompanhou-me sempre e foi
o meu pilar, o meu melhor amigo.
Em 2016 casamos, foi o dia mais feliz das nossas vidas. A partir daí queríamos o nosso
bebé, o nosso sonho era ter o nosso pequeno humano para criar, para amar.
Passou um ano e nada… Depois de me desligar do trabalho que me dava imenso stress,
um mês depois a boa notícia chegou, estava finalmente grávida e eu não acreditei. Foi um
sentimento tão forte, foram choros e risos, foi uma mistura de sentimentos sabendo que estava
ali o nosso bebé.
Eu sentia-me muito bem, tirando os enjoos que durante 1 mês não podia nem cheirar a
comida.

Tudo parecia estar a correr bem até chegar o momento das ecografias. Sentiram
que o mundo caiu, a menina não estava bem tiveram de fazer a biopsia das vilosidades em que
se confirmou o pior… “a nossa menina tinha trissomia 21, entre outros problemas.”

Depois de um momento sombrio que aterrou de repente na vida do casal, a
coragem de engravidar voltou. Em agosto de 2018 estava outra vez grávida. A felicidade era
igual, mas a magia já não era a mesma porque o medo sobrepunha-se a tudo. Quiseram fazer a
ecografia das 12 semanas, mas o pior só se veio confirmar às 14 e 4 dias. “Interrompi
novamente a minha gravidez. A minha menina também tinha trissomia 21, entre outros
problemas”.

O casal decidiu fazer o estudo do cariotipo para perceber o que realmente se
passava e tiveram a sorte de ser acompanhados por uma doutora espetacular quando foi
internada. No serviço nacional de saúde só recomendam estes exames a partir de um terceiro
aborto, mas o marido fez conta própria para isso se concretizar antes.

“Em janeiro fui chamada à consulta de genética para saber o resultado do estudo
do meu cariotipo. O Dr. que me atendeu, foi um deus, teve todo o cuidado e mais alguns
explicar-me o que eu tinha. 99% dos casos com trissomias são livres, ou seja, todas as células
têm 47 cromossomas em vez de 46 depois 5% dos casos são as trissomias resultantes de
translocações (resultam muitas vezes hereditárias) e depois 3% são as trissomias por mosaico,
sim indivíduos que têm trissomia 21 em mosaico quer isto dizer que temos material genético
com 46 cromossomas e material genético com 47 cromossomas.

Eu sou um desses casos, o meu cariotipo é 46XX;47XX. Eu tenho trissomia em
mosaico. Como por milagre não tenho alterações físicas nem motoras nem tenho nenhum
retardo mental, mas esses genes andam por aí.”

No entanto, o marido é geneticamente saudável. Diz ainda que em todo o
processo o marido está a ser um grande apoio e para além disso ajuda-a a ver o que é apenas
essencial e não se focar nos pontos negativos.


“Vamos começar a nossa luta pelo nosso bebé perfeito a primeira consulta é em breve com o Dr. Alberto e sei que vou estar nas mãos dos melhores.”

Reforça ainda que os futuros bebés merecem o melhor e está na hora de
confiarem dos médicos e merecerem paz porque sem isso o sonho não será possível.

Só os familiares e os amigos mais próximos é que têm conhecimento mas ela
diz que quem tem um marido, companheiro e amigo como o dela não precisam do resto
porque não há mais ninguém que a entenda melhor que ele “porque só ele nos
compreende e nos sente como nós nos sentimos e eu posso dizer que ele é o meu melhor
amigo e agradeço todos os dias ter encontrado a minha pessoa, parte de mim”.

Irão lutar nos próximos tempos pelos seus bebés e com a esperança que vai tudo correr bem “embora nenhum bebé vai as substituir”.

O blog não é só meu. Nunca foi e não tenciono que seja. Por isso mesmo, depois de muita pesquisa, de falar com muita gente, de entrar em muitas casas, corações e histórias, partilho convosco uma série de entrevistas feitas a outras mulheres. Com diversas temáticas, tentei ir de encontro às menos faladas. Como é ser mãe e pai? Como se lida com um aborto? Como se vive a infertilidade? O espaço é nosso... e é no nosso espaço que estas emoções virão à flor da pele.