O blog não é só meu.

21:00

O blog não é só meu. Nunca foi e não tenciono que seja. Por isso mesmo, depois de muita pesquisa, de falar com muita gente, de entrar em muitas casas, corações e histórias, partilho convosco uma série de entrevistas feitas a outras mulheres. Com diversas temáticas, tentei ir de encontro às menos faladas. Como é ser mãe e pai? Como se lida com um aborto? Como se vive a infertilidade? O espaço é nosso... e é no nosso espaço que estas emoções virão à flor da pele.

Teve a felicidade de ser mãe poucos anos depois de ter casado, viviam um casamento feliz e
juntos sentiram que era o momento certo, acabou por ser uma gravidez programada.
Em 2003 recorreram a uma médica para fazer uma preparação e com aconselho da mesma
deixou então de tomar a pílula e começou o ácido fólico. Não passou de 3 meses para começar
a sentir enjoos e o teste de gravidez veio a confirmar a resposta mais esperada, estar grávida.
“Deixei o meu marido sair para o emprego e mandei-lhe um sms com a melhor mensagem
“bom dia papá” … Desta gravidez nasceu uma linda menina saudável”
13 anos depois, em 2016, sentiram que tinha chegado finalmente o momento certo para a
família crescer. Era algo que ansiavam há muito tempo, mas por motivos profissionais ainda
não tinham conseguido.
Rapidamente conseguiu ficar gravida outra vez e até às 8 semanas parecia estar tudo a correr
bem até chegar a uma noite em que acordou com uma sensação estranha e estava a perder
muito sangue “na esperança de não ser nada de grave e sendo domingo fiquei por casa em
descanso…”
O facto do medo ter falado mais alto não conseguiram aguentar e recorreram ao hospital são
João para perceber o que realmente se passava…. O pior veio-se a confirmar. “Durante a noite
os meus piores receios revelaram-se verdadeiros e o nosso mundo ruiu ao ouvir a médica do
hospital são João que não havia batimento cardíaco… Infelizmente estava a entrar em processo
de aborto.”
Nessa mesma noite voltaram para casa e a união fez a força. O sentimento de angustia,
tristeza e derrota podia ser muita, mas foi a cumplicidade e o amor que os uniu mais para a
ajudar a superar a perda do bebé.
“Nessas alturas houve muitas dúvidas, “será que fiz alguma coisa para que contribuísse para a
perda?” “Será que vamos ser capazes fisicamente e psicologicamente de voltar a tentar?” “
No início de 2018 estava novamente grávida. “A alegria era imensa, mas o receio de voltar a
passar por nova perda era maior.”
As consultas pré-natal estavam a correr dentro da normalidade e até começou a tomar
vitaminas para prevenir o pior. Ao longo do tempo, estando tudo a correr bem, o sentimento
de medo ia diminuindo, a alegria e confiança era tanta que partilharam a notícia com a filha de
13 anos que ficou radiante.
“Ouvimos o coração do nosso bebé às 7 semanas e nessa altura os receios e medos foram
sendo ultrapassados…, mas infelizmente na eco das 12 semanas o mundo voltou a ruir, mas
com muita mais força. O nosso bebé tinha deixado de evoluir às 8 semanas e já não era
possível ouvir aquele coraçãozinho.”
De um momento para o outro a vida voltou a dar uma volta de 180 graus. Poucos dias antes
tinham ouvido o coração do bebé e naquele momento era um coração que já não batia e um
bebé que já não existia.
Desta vez foi tudo muito mais doloroso… teve que forçar o aborto e para além de ser dores
físicas, as dores psicológicas nem se falava. A dor interior chegou a ser tanta que a força já não
era igual como no passado e chegou a afastar-se de toda a gente, incluindo do marido.

“Felizmente tenho um marido e companheiro espetacular que apesar da sua dor esteve sempre
ali ao meu lado com toda a sua paciência, amor e carinho… Foi toda essa força que me ajudou
a seguir em frente.”
São várias as questões que ainda coloca a ela mesma e palavras que lhe custa ouvir como
“Também já não és nova para engravidar”, “A gravidez nesta idade é sempre perigosa”.
Tudo isto acaba por lhe fazer questionar ainda mais e por em questão se realmente é verdade
o que as pessoas lhe dizem “Custa imenso ouvir, será verdade? Será que já passou o meu
prazo de validade?”
No entanto, a esperança é a última a morrer. O desejo continua a ser grande e o receio igual.
“O receio seja tanto que nem o meu corpo esteja ainda preparado para nova gravidez, como
eu costumo dizer, seja o que Deus quiser para nós.”


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